segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Intensidade


       
            De tudo que é efêmero, dentre tudo que é mutável, só ela é constante. Pessoas entram e saem da minha vida, transito de um lugar pro outro, substituo uns problemas por outros. Mas ela, ela nunca é substituída, ela nunca fica pra trás numa viagem, a tal da intensidade.
            Nem sei se devo referir-me a ela como algo à parte. Não sei em que momento ela se apresentou a mim, mas quando o fez a acolhi como a uma irmã. Não foi fácil conviver com ela , no entanto ela se costurou tão bem na minha essência que não senti necessidade de cortar os pontos que nos uniam. Ela desperta meus anjos e demônios, faz-me oscilar entre a melancolia e a euforia, faz alguns me amarem e outros me odiarem. Alguns me acharem espontânea, outros tantos me acharem ridícula.
Ela foi o meu ingresso – e garanto, custou caro - pra montanha-russa em que transformei a minha vida – por livre e espontânea vontade. Entre os altos e baixos dela sempre é provável que eu saia tonta ou ferida. Mas faço questão dos arranhões, das cicatrizes, das dores pois eles acontecem em menor proporção mas em mesma intensidade – olha ela aí de novo - das alegrias, da adrenalina, da satisfação, da sensação de liberdade. Não é que eu não tente evitar as dores, mas acho que, na maior parte das vezes, vale a pena se machucar se existir uma possibilidade de conseguir algo que realmente quero. E com o mesmo poder com o qual me amortece, ela também me faz sentir viva e exultante.
Muitos perguntam que tipo de problema mental uma pessoa pode ter pra escolher viver dessa maneira. E, convicta, respondo: é preferível viver à mercê dos sentimentos mais intensos do que apenas existir sob a letargia da mediocridade. Levantar a bunda do sofá é o único fator definitivo entre apenas existir ou viver. Às vezes dói, machuca, mas também ensina, educa. Não consigo sentir as coisas mais ou menos. A mediocridade me irrita, ou me importo com algo ou sou indiferente a isso. Eu não sou mais ou menos alguma coisa, ou sou várias coisas ao mesmo tempo ou não sou nada.Não quero fazer mais ou menos parte da vida de alguém, tampouco quero que as pessoas façam mais ou menos parte da minha.  Eu não quero ser mais ou menos feliz. 
Querer ter uma vida feliz sem dedicar-se a isso, querer que as pessoas compreendam seu comportamento se escondendo atrás de seus medos é o mesmo que querer ganhar na loteria sem comprar o bilhete. A vida só é intensa para os que agem como tal. O prêmio só está disponível aqueles que se submetem à possibilidade do fracasso.
E quando falo em intensidade não falo de loucura, tampouco de insanidade. Falo de transparência, falo de força, de se fazer ouvir, de se deixar ver, de dar a cara a tapa, de apostar as fichas, de se ferrar de vez em quando na esperança de que outrora poderá ser tudo diferente. Mais vale uma lágrima nos olhos de quem lutou por um sorriso do que um sorriso nos lábios de quem nunca lutou por nada.
Não suporto quem exige uma pessoa inteira mas se doa somente pela metade. Todos temos o direito de viver da forma como escolhemos sem sermos recriminados por isso. Mas dessa mesma forma temos o direito de escolher com quem convivemos e de que forma queremos fazê-lo. Não quero compromisso, quero doação. Não quero palavras, quero atitudes. Não quero ligações, quero olhos nos olhos. Não quero presentes, quero presença. Prefiro o zero do que o meio. Peco pelo excesso, não pela falta. Peco, inclusive, pela persistência.
Dificilmente abandono uma causa, raras vezes me dou por vencida, insisto, persisto, luto. No entanto, a intensidade dos desejos esmorece ao esbarrar com o alerta do amor próprio, a intensidade da compreensão é esmagada pelo limite da tolerância, a intensidade dos sentimentos se abranda ao se deparar com as queixas de um corpo cansado de insistir. E com a mesma intensidade com que levanto da cama todos os dias pronta pra lutar por mais um sonho também sou capaz de ser nocauteada, devastada e me sentir a última das mortais. Sou capaz de me isolar no mundo, fechar-me dentro das minhas próprias paredes e, logo em seguida, despertar do meu torpor como se nada tivesse acontecido, fazer uma piada idiota e deixar todo mundo com a pulga atrás da orelha.
E cá estou eu saindo de mais uma volta na montanha russa, tonta e dolorida como em muitas vezes, mas mais forte e um pouco mais sábia como em todas. E não prolongo o lamento, afinal é uma imensa burrice lamentar pelas conseqüências do modo de vida que optei por levar. E lá vou eu preparar-me pra próxima volta. Se é de subida ou de descida, isso só Deus sabe. Mas o que eu garanto é que vai ser tão ou mais intensa como as anteriores. 
No final das contas, eu sempre preferi os perturbadores altos e baixos da montanha russa do que a singularidade lenta e tediosa do bondinho. 

Um comentário:

  1. Descobri que nem Deus, suporta o morno. Ta lá na biblia, Ele dizendo: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente!
    Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.
    Apocalipse 3:15-16

    ADORO VC, PQ NUNCA SEREMOS DO TIME DOS MORNOS...
    Bjo e Bora confundir o mundo, pq a gnt não veio pra explicar... KKKKKk

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