quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

SOBRE O ASSÉDIO SEXUAL DIÁRIO E O QUE NOVA PETRÓPOLIS TEM A VER COM ISSO


Hoje de manhã, eu estava parada na calçada ouvindo música e mexendo no celular enquanto aguardava minha condução para o trabalho. Eis que um caminhoneiro engraçadinho resolve buzinar, e a buzina num volume insuportável quase me faz ter um ataque. Como se não bastasse o susto, o caroneiro quase coloca todo corpo pra fora do caminhão pra continuar mexendo comigo. Eu, como sempre, levanto o dedo do meio desejando, intimamente, que as bolas daqueles animais irracionais gangrenem e caiam. Se você acha exagero da minha parte, é porque não sabe o que é ficar com ódio por ter seu espaço invadido quase DIARIAMENTE por ANIMAIS  que ainda acham que mulher deve agradecer por levar cantada. Mas se você for mulher, você sabe exatamente do que eu estou falando.
                Porque talvez, você mulher, faça parte dos 81% que já deixaram de ir a algum lugar ou dos 90% que já trocaram de roupa antes de sair de casa, por medo do assédio (segundo pesquisa do blog Think Olga = http://thinkolga.com/2013/09/09/chega-de-fiu-fiu-resultado-da-pesquisa/).
                Mas se você for homem, talvez isso nem tenha passado pela sua cabeça.. afinal de contas, você pode andar sem camisa em (quase) qualquer lugar sem que isso seja entendido como provocação sexual, você pode ir e vir sem ter medo de ser assediado, agredido ou estuprado. Que bom pra você, porque você não precisa sentir medo apenas pelo fato de EXISTIR e ter uma vagina.
                Sim, eu sei que tem mulher que adora se expor, que acha graça em cantada, que usa roupas vulgares com o propósito de provocar. Afinal, infelizmente, a gente ainda vive numa cultura que objetifica a mulher - muitas vezes com o consentimento de muitas delas. Mas ser sexy, ou vulgar ou qualquer outra coisa é uma escolha individual, e ninguém  tem o direito de xingar, zoar ou assediar qualquer mulher por isso. Cantada não é elogio!
                Porque usar roupa curta, na maioria das vezes, NÃO É UM CONVITE. Mulheres têm o direito de usar roupas frescas assim como você anda por aí sem camisa SEM PRECISAR TER MEDO DE UM ESCROTO PASSANDO A MÃO NELAS, BUZINANDO, CHAMANDO-AS DE GOSTOSA OU FAZENDO AQUELE BARULHO INSUPORTÁVEL COM A BOCA (que pra mim, lembra o som de carne assando). RIDÍCULO!!!
                Eu já leio sobre o feminismo há algum tempo (casalsemvergonha.com.br; thinkolga.com; blogueirasfeministas.com, todos têm ótimos textos a respeito). A minha intenção não é dizer o que todos dizem, nem dar lição de moral em ninguém.. A minha intenção é falar sobre coisas que eu vejo (e que eu sinto) diariamente dentro da minha realidade: a de Nova Petrópolis. Aí discuto sobre esses assuntos que tanto leio e, muitas vezes, sou censurada justamente pelas mulheres daqui.
                 E o que me deixa chateada não é a censura, mas é quando penso em toda educação e a cultura que está enraizada  e que faz muitas mulheres de Nova Petrópolis ainda pensarem como homens machistas, e inclusive criarem seus filhos e filhas para serem assim. Criam seus filhos para serem "os pegadores", os meninos que não choram, que e aaaai deles se tiverem jeito de bichinha (o que o pai, os avós e os vizinhos vão pensar?). Criam suas filhas para serem como as princesas da Disney: imaculadas, inocentes, burras e subservientes aos seus futuros homens. Ai dessa menina se jogar futebol, se andar de skate, se andar com os meninos, se fizer tatuagem, se usar boné, se tiver jeito de "machorra", se brigar com os meninos que fazem bullyng, se não quiser casar ou ter filhos.  Acha exagero? Então me chama inbox que eu tenho várias histórias pra contar.
                O que isso tem a ver com o início do texto? TUDO! Porque é aí que muitos meninos crescem achando que podem tudo, e muitas meninas crescem achando que não podem nada. E esse tipo de pensamento é reforçado na adolescência e consolidado na vida adulta, com ajuda dos pais e da sociedade.
                 Aí tu vê as meninas no boliche caindo de bêbadas e se impressiona, mas não se surpreende com o bando de idiotas que volta e meia se senta na frente do Babão ou do antigo Baronesa pra mexer com a mulherada na rua - e se tu mandar um deles tomar no cu, é capaz de ser linchada por todos.
                Daí tu dá uns tapas no cara que te traiu e tu é a ruim da história (e ainda dizem que vadia é a menina que se ofereceu pra ele), mas quando alguma mulher em Nova trai o namorado, daí ela é a vagabunda. Daí a mulher viúva começa a reconstruir a vida e namorar com outra pessoa, e ela é a oferecida. Mas se o cara viúvo conhece outra mulher é justo porque, afinal, alguém precisa ajudar ele a cuidar da casa. O pior: são muitas MULHERES de Nova que ajudam a disseminar todos esses preconceitos.
                Eu não vou conseguir mudar o mundo, nem o que as pessoas pensam ou fazem, até porque já é um grande esforço tentar mudar a mim mesma e os pensamentos preconceituosos que eu ainda cultivo no meu íntimo. Mas se os pais se preocupassem mais em saber por onde os filhos andam do que falar mal do filho dos outros, se as mães falassem mais sobre sexualidade com as filhas em vez de falar mal da filha da vizinha que apareceu grávida, se as pessoas achassem mais normal falar sobre esses assuntos do que sobre o BBB ou a novela, então talvez teríamos uma chance de mudar o pensamento das próximas gerações, dessa galera que tá vindo aí e não parece ter a menor consciência sobre quase nada... e a maior culpa é dos adultos: muitos daqueles mesmos que acham graça mexer com as mulheres e que acham que mulher de roupa curta pediu pra ser estuprada. Alguém tem ideia de que não é incomum aqui em Nova que meninas sejam violentadas por parentes?
                Talvez pareça estranho, muito doido da minha parte, fazer uma análise que envolva tantos assuntos diferentes. Se você concorda ou não, é um direito que lhe assiste. Mas se ao menos isso te fizer repensar algumas coisas, já fico feliz. Eu também vivo repensando.
                No fim das contas, acho que não importa muito se a gente concorda ou não. Independente do que você acredita ou do lugar em que você esteja, uma coisa deveria ser certa: NO DIA EM QUE A MULHER TIVER O MESMO VALOR QUE UM HOMEM, E NO DIA EM QUE MUITAS MULHERES SOUBEREM SE VALORIZAR, AS COISAS SERÃO MUITO DIFERENTES. Desde o maldito e inconveniente assédio diário até a remuneração igualitária. É disso que se trata o feminismo: não se permitir ser menos, mas também não querer ser mais, apenas ser IGUAL.

                E ao caminhoneiro: eu queria ver se fosse com a tua mãe. E eu só não te chamo de filho da puta porque, pra variar, quem é xingada de puta é sempre a mulher.     

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Das verdades que desmentimos, das mentiras em que acreditamos.

“É muito solteiro apaixonado e muito casal fingindo que se ama.” Essa é mais uma daquelas frases engraçadinhas do Facebook que, brincando, diz umas boas verdades pra quem quiser entender.
E é engraçado como disfarçamos isso tudo muito bem: o universo dos solteiros está aí pra alardear o consumo, a efervescência da vida noturna, o glamour das viagens, as plumas e paetês de um mundo pontilhado de micro saias, descolorante capilar e pó bronzant, camisas justas, calças de marca e carros do ano.
O que ninguém mais quer ver: mulher bonita se vendendo por camarote na balada pra mostrar pro ex que, afinal, ela está muito melhor sozinha. Homem pagando uma de machão pros amigos quando, na verdade, queria estar bem longe da “mulher grude” que empurraram pra ele.
Em contrapartida, o mundo dos comprometidos traz a linda promessa do amor dedicado vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Dos aniversários de namoro regados a muito vinho importado, presentes caros e demonstrações públicas de afeto.
 O que ninguém quer ver: cobranças infundadas, ciúmes acompanhados de grandes doses de insegurança e falta de confiança, ouro e brilhantes muito verdadeiros e “eu te amo´s” muito falsos. Ilusão demais, respeito de menos.
Nada é cem por cento bom ou cem por cento ruim e todas as experiências são necessárias, afinal de contas, todo mundo quer ter história pra contar. Digo isso porque muitas dessas coisas eu vi, e tantas outras eu vivi. Mas agora, cá entre nós, tiremos o dinheiro, as aparências e os expectadores disso tudo pra ver o que sobra. Cadê o espaço para os verdadeiros amigos, para as coisas simples da vida? Pro chopp baratinho do fim de semana, pra festa mixuruca cheia de gente que você gosta, pro beijo sincero de quem te quer bem, pra vontade de viver as coisas em vez de viver colocando nome nelas?
"Só porque você acredita firmemente numa coisa não significa que ela seja verdadeira. Disponha-se a reexaminar aquilo em que acredita.” O que essa frase tem a ver com isso tudo? Simples: todos temos idéias pré-concebidas sobre tudo. Algumas advindas de nossas experiências – por vezes desastrosas- e tantas outras criadas por um mercado que ganha, e muito, com a nossa ignorância. O fato é que distorcemos tudo: confundimos parceiros com amigos, performance sexual com satisfação, namorados com caixas 24 horas, solidão com liberdade, namoro com prisão. Alguns continuam namorando com aquela pessoa insuportável por comodismo, tantos outros sozinhos continuam a olhar de longe aquela pessoa especial por insegurança. Senhor, dai coragem – e vergonha na cara – dessa gente (ah, eu, por vezes, também) que ainda ouve o que os outros dizem, que ainda teme sofrer de novo.
E como já disse, minha ídola, Martha Medeiros: “Fazer do seu jeito - amores, moda, horários, viagens, trabalho, ócio - é uma maneira de ficar em paz consigo mesmo e, de lambuja, firmar sua personalidade, destacar-se da paisagem. Claro que não se deve lutar insanamente contra as convenções... Estão aí para facilitar nossa vida. Mas se não facilitam, outro jeito há de ter. Um jeito próprio de ser alguém, em vez de simplesmente reproduzir os diversos jeitos coletivos de ser mais um."