quarta-feira, 23 de março de 2011

Entre caminhos e lágrimas

            Os pensamentos surgem em fluxos arrebatadores e não consigo nem ordenar as palavras. Os dedos tentam desesperadamente teclar sílabas que o coração não consegue mais verbalizar. As lágrimas bem que tentam, mas os olhos já estão cansados de chorar.
Então, desisto de escrever e rendo-me à minha paralisia racional.
            Abro o portão e meus pés me conduzem até a rua. A noite está calma, a lua está bonita. Mas por que, de repente, o mundo se tornou um lugar tão hostil para mim? Os pulmões parecem não inspirar ar suficiente e a angústia parece envolver cada célula do meu corpo. Sem notar, abraço meu próprio corpo na vã tentativa de me proteger de algum inimigo imaginário. Sigo sem ter consciência de para onde estou indo, apesar de conhecer tão bem o lugar em que estou. Por que mesmo o que é tão conhecido perdeu o sentido para mim?     
            O clima está agradável e um arrepio perpassa meu corpo, mas não parece ser de frio. Quando foi que comecei a olhar tanto para trás? Até o vento tão suave parece querer me agredir e quando me aproximo do mar que antes parecia tão convidativo, paraliso, depois dou meia volta e me encaminho para casa. Quando foi que as coisas foram ficar tão estranhas? E depois de todo esse tempo sozinha, quando foi que comecei a ter medo da noite?
            As coisas não vão bem e quando me pergunto finalmente: “Pra que lado vou?” meu coração me responde, com toda sinceridade: “Pra qualquer um que não seja aqui”.
As dúvidas são arrebatadoras, mas as certezas podem ser mais ainda piores quando é o coração que as afirma. Meus pés continuam seguindo e não consigo mais sentir que me aproximo de casa. Quando foi que perdi a sensação de ter um lar?
            Entro, jogo-me no pufe. Finalmente elas me vencem, as desgraçadas lágrimas. Com a visão embaçada começo a observar o apartamento. Os móveis, a decoração, os objetos: tudo fez parte de uma vida que está findando. E mesmo sabendo o quanto é necessário, por que ainda dói tanto?
            O celular está no bolso, lembro que você disse que eu devia ligar quando precisasse. Mas pra que? Só pra eu me sentir ainda pior, ainda mais fracassada, ainda mais frágil? Só pra eu ter ainda mais certeza de que preciso sair correndo daqui? Quando foi que a magia se transformou em desencanto?
            E quando a melancolia me invade, finalmente consigo escrever. Por que diabos as inspirações surgem em momentos tão extremos?
            A única coisa que eu queria agora era sair e caminhar sem rumo até vencer a angústia e ser vencida pelo sono. Mas se há pouco, ao sair pra rua, me senti tão amedrontada como poderia fazer isso agora?
            E, pela primeira vez em muito tempo, não sei como concluir um texto. Não sei como concluir um pensamento, não sei nem como concluir a noite sem cair num choro infantil. A única coisa que consigo me lembrar agora é uma frase que um dia alguém me disse sem nem saber o quanto ela poderia me consolar agora: “Tine, toda mudança gera um desconforto”. É vampirinho, eu sei. Eu só não sabia que era tanto...
                       
           

4 comentários:

  1. Uau Tine. Esse texto me tocou de una maneira. Acho que todo ser humanoid se sente dessa maneira qnuando torna-se independente. Sao sensacoes que nunca tivemos antes pois sempre estivemos protegidos pelos nossos pais, amigos, familia... Estando sós descobrimos nossas fraquezas, o que nos amedronta e se estamos preparados ou nao. Mas lembre-se... Por mais dificil que seja...é assim que crescemos como pessoas. Muito bem escrito. Voce deveria publicar um dia. :)

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  2. Cris...
    Tu deveria lançar um livro. Aqui neste blog, já tem material suficiente e de excelente qualidade... E este texto está sensacional.
    Condenamos tanto a melancolia, quando é ela mesma que nos proporciona estas maravilhas literárias...
    Tu não tem ideia de como eu queria arrancar esta angústia do teu peito.
    Mas estes momentos vêm para acordarmos nosso potencial e enchergarmos novas possibilidades, mesmo que agora pareça tudo muito confuso.
    A vida é tão intensa e dúbia. Não há certezas, apenas especulações...
    Mas o que aprendi é que sempre devemos ouvir nosso coração. Se fizeres tudo com o coração, seguirás o caminho mais correto.
    Muita luz!
    E no que precisar, conversar, desabafar, dividir mágoas e alegrias, me procure.
    Estarei sempre presente, mesmo que de longe!
    Beijos, lindona...
    Te adoro muito!

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  3. Adorei teu blog, adorei teus textos!! Muito bons!!!

    Beijo grande e foi um prazer te conhecer!!

    Beijo, já seguindo! hehehe ;)

    http://porjulimari.blogspot.com

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