quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Lições em um temporal

            Ontem foi um daqueles dias em que o momento de sair do ônibus coincidiu exatamente com o momento em que começou a chover torrencialmente. E para completar o momento de “sorte”, obviamente, eu estava sem guarda-chuva. Aí tive que pensar no que fazer: correr até em casa desesperadamente ou simplesmente caminhar na chuva como se nada estivesse acontecendo. E eu escolhi a segunda opção.
            E é engraçado pensar em quantas situações inevitáveis se colocam à nossa frente todos os dias e quantas vezes decidimos resistir a elas em vez de nos conformarmos e seguirmos em frente da melhor forma que pudermos. Claro que, na maior parte das vezes, sempre podemos tomar uma atitude. Mas há sempre aquelas horas em que a melhor atitude é não tomar atitude nenhuma e deixar a vida se desenrolar. Há várias “chuvas” na nossa vida que revelam grandes oportunidades de aprendizado.
            E naquela noite, como se não bastasse ter chegado em casa bastante molhada decidi ainda prolongar esse momento. Deixei minha bolsa em cima da mesa da cozinha, troquei a sapatilha encharcada por um chinelo e fui caminhar até a beira da praia (sem guarda-chuva). Observar o mar revolto, os raios se encontrando com o mar, as nuvens negras escondendo a lua ainda adicionaram mais uma à lista de reflexões do dia. Diante de toda a imponência da natureza, percebi o quanto eu e meus problemas somos pequenos. O quanto é fácil mergulharmos na grandeza falsa de nossos problemas e nos esquecermos de quantas coisas no mundo são maiores do que nossas decepções, tristezas ou aflições. O quanto pagamos para ter prazeres que a natureza oferece de graça. O quanto um banho de chuva pode ser mais prazeroso do que um dia inteiro no shopping. O quanto a natureza pode nos ensinar todos os dias.
E depois de passar um bom tempo olhando para o mar e me encharcando mais um pouco, finalmente decidi ir para casa sob os olhares desconfiados das pessoas que passavam na rua de carro. Naquela noite, tomar um banho quente e colocar um pijama foi tão mais prazeroso do que era normalmente. Fui pra cama com todas as reflexões que tive naqueles pequenos instantes e com a certeza de que, na próxima vez que chover, se eu não tomar um banho vou, ao menos, ficar na janela observando a chuva e esperando as próximas lições que a natureza quiser me ensinar.

Um comentário:

  1. Tine, linda postagem!
    Me fez pensar mesmo...
    Parabéns pelas palavras.
    Beijos

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