Ah, a solidão. Uma amiga indesejada que aparece, de vez em quando, só pra te dizer: “Ei! Eu existo!”. Para algumas pessoas ela está na lista de principais necessidades. Mas, na maior parte das vezes, ela está presente na lista de principais medos. Para a sociedade talvez ela esteja na lista dos rejeitados, para algumas pessoas ela é bem-vinda somente de vez em quando. Mas de um modo geral, a pobrezinha é um tanto quanto injustiçada.
Eu moro sozinha há alguns meses e toda minha família mora a uns quinhentos quilômetros de mim. E apesar de a solidão ser uma conhecida minha, têm algumas coisas que eu sempre desejei fazer sozinha. Uma delas: ir sozinha ao cinema. Um desejo bastante simples, nada incomum. Mas o prazer que tive ao fazer isso foi imensurável. Fiquei muito feliz ao descobrir que a minha própria companhia me bastava. E ao constatar isso, juro que tive vontade de me abraçar.
Naquele momento, mais do que nunca, dei-me conta do quanto saber estar sozinho é importante. Também percebi que muitos erros que cometi em relacionamentos anteriores deviam-se ao fato de eu não ter tido a capacidade de fazer isso antes. Sempre dizem que para estar com alguém, primeiro é preciso saber estar sozinho. É uma pena que tantas pessoas tenham se limitado somente à teoria desta frase tão simples, porém tão verdadeira.
Temos cultuado tanto as festas, os milhares de amigos, a vida enlouquecida e cheia de compromissos, os mil amigos no orkut e tantos outros no msn, os namoros e casamentos que não percebemos o quanto somos incapazes de ficar sozinhos.
INCAPAZES. Sim, esta é a palavra. Cultivamos falsas amizades, aceitamos desaforos, traições e agressões de péssimos companheiros, vamos a festas que não temos vontade de ir, fazemos contatos com pessoas que achamos insuportáveis, ficamos com caras bonitos mas intragáveis, seguimos gente no twitter que só fala besteira, tudo isso apenas para não perdermos contatos, para não nos sentirmos sozinhos, para sermos aceitos. Tudo isso pelo medo de não ter pra quem ligar no final-de-semana. Tudo isso pelo simples medo de nos descobrirmos sozinhos em casa numa linda tarde de domingo.
Solidão não quer dizer estar completamente só numa ilha deserta. Você pode estar rodeado de pessoas e estar sozinho. Assim como você pode morar longe de todos que você ama e sentir-se “acompanhado” e lembrado constantemente.
Não faço nenhuma apologia à completa solidão e isolamento. Apenas sugiro que todos, pelo menos uma vez por semana ou quando sua limitação permitir, aprendam a ter momentos de solidão. Talvez, cultivando este hábito, nós aprendamos a conviver melhor com nossas limitações e com as dos outros também. E talvez assim, conhecendo melhor a nós mesmos, aprendamos a ser mais seletivos ao escolher as pessoas que passarão o tempo conosco.
É importante lembrar que a solidão não precisa ser uma imposição ou um medo, ela pode ser uma escolha. E no momento em que você tem essa escolha nas mãos, ela não te atormenta mais.
-Solidão, seja bem-vinda. Se você não existisse eu jamais saberia o valor de estar acompanhada.-
Exatamente isto, Cris!
ResponderExcluirMuitas pessoas têm medo da solidão justamente pelo fato de não se conhecerem.
Eu posso afirmar isto, pois antes de morar sozinha, a solidão era um bicho de sete cabeças pra mim... Somente depois de conhecê-la profundamente, passei a explorar o meu universo, o meu íntimo, o quanto posso render aproveitando momentos de solidão e passei a valorizá-los na minha vida. Ficamos mais autossuficientes, passamos a ter controle das nossas vidas!
Tem um texto do Caio Fernando de Abreu que tenho como um lema para mim e entra neste contexto:
"... Não compreendo como querer o outro possa
tornar-se mais forte do que querer a si próprio.
Não compreendo como querer o outro possa pintar
como saída de nossa solidão fatal.
Mentira: compreendo, sim.
Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,
berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei
sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó.
O que ou quem cruzo esses dois portos gelados da solidão
é vera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo.
E exigimos o eterno do perecível, loucos".
Belo post!
Beijão.
Oi Fê!
ResponderExcluirAh sim, conheço esse texto.. creio que você já tinha enviado ele por e-mail e eu achei o máximo!
O espírito é esse.. as pessoas são necessárias na nossa vida, só que elas nunca podem ser mais importantes do que a gente mesmo..
Só aprendendo a nos valorizar é que conviveremos melhor com os outros!
brigada pelo coment!
;D
bjoo
Sensacional!!!
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